REVIEW AND BACKGROUND ARTICLE Concert, Teatro de São Carlos, Lisbon, 16 April 2003 Muitos floreados na bela voz de Flórez, Diário de Notícias. 16 April 2003 El mejor tenor del mundo, La Razón, 18 April 2003 _______________________________________________________________ |
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Muitos floreados na bela voz de Flórez Bernardo Mariano, Diário de Notícias. 16 April 2003 É muito provavelmente a maior revelação do canto operático italiano em tempos recentes e visita esta noite palcos portugueses pela primeira vez (21.00, Teatro São Carlos)! Chama-se Juan Diego Flórez, é peruano de Lima, tem 30 anos «frescos» e já faz um circuito «selecto» pelas maiores casas de ópera do mundo: Scala, Staatsoper Viena, Covent Garden, Palais Garnier, Metropolitan, Ópera de São Francisco e outras que tais, para além do Festival «Rossini» de Pesaro e do de Salzburgo. No concerto desta noite, Flórez será acompanhado pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e pelo Coro do São Carlos, dirigidos por Riccardo Frizza, jovem regente especialista neste repertório e seu «consorte» em recente registo Bellini/Donizetti para a Decca, editora com a qual tem já um contrato de exclusividade desde há dois anos. Dizem-no já o herdeiro de Pavarotti _ aliás um ídolo confesso de Flórez (os outros são Montserrat Caballé e Alfredo Kraus) _ e muitos comparam a sua voz à que possuía o jovem Luciano há coisa de 30 anos. Outros opinam que uma tal eclosão de puro talento vocal não sucedia desde as primícias de uma Cecilia Bartoli. A verdade é que, nos dias que correm, vozes como a de Juan Flórez são fenómenos que vão rareando. Eis uma voz perfeita para o belcanto italiano, esse estilo de escrita para a voz que imperou na produção operática transalpina, grosso modo entre a década de 80 do século XVIII e a década de 40 do seguinte, muito embora o seu rasto tenha origem na florida ópera barroca e, na ponta oposta, se prolongue século XIX dentro em certas óperas ou, mais propriamente, certos papéis de Verdi ou Puccini. Juan Diego Flórez é um belcantista e, especificamente, um tenore rossiniano por excelência. Tipologicamente, isso traduz-se num tenor lírico ligeiro com enorme técnica vocal e respiratória, voz ágil em todos os registos e fácil nos agudos e sobreagudos sem por isso nada perder em qualidade e cor. Também a capacidade de executar tanto as mais arrevesadas acrobacias vocais em que a escrita de Rossini é tão fértil, como os grandes arcos em legato. Como actor, louvam-lhe a capacidade comunicativa, a facilidade com que cria empatia com o público e o instinto cómico. E pensar que a sua estreia se deu há menos de sete anos! No Verão de 96, em pleno Festival «Rossini» de Pesaro, Flórez, que integrava o coro, foi chamado a substituir o tenor previsto numa produção da Matilde de Shabran. Foi o início dum furor generalizado que, de forma meteórica, conquistou a Itália _ logo em Dezembro seguinte, estreava-se já no Scala pela mão de Riccardo Muti _ e em breves anos todos os grandes palcos mundiais. Flórez diz que quer cantar Rossini para o resto da vida, embora reconheça _ em curiosa comparação com a carreira dum futebolista (um desporto de que é grande fã) _ que depois dos 40 anos, o mais tardar, se torna difícil responder consentaneamente de início ao fim às exigências vocais colocadas pelas óperas desse compositor. Rossini, pois, mas também Donizetti, Bellini, Cimarosa, Meyerbeer formam o fulcro duma carreira fulgurante. De futuro, apontam-lhe a ópera barroca de Händel e seus pares. A ver vamos... Certo é que Flórez declara que experimentará qualquer repertório, contanto que se adeqúe às características da sua voz _ e ele parece saber extremamente bem o que se adequa ou não... Para a semana, este diplomado do Curtis Institute de Filadélfia que também é um guitarrista muito «jeitoso» estará na Staatsoper de Viena, cantando Elvino na Sonnambula, de Bellini. E é certo que voltará a espantar quantos o forem ouvir El mejor tenor del mundo Gonzalo Alonso, La Razón, 18 April 2003 Con todavía pocos discos en el mercado y con una juventud avasalladora, se ha convertido en el tenor de referencia. Es hoy día el mejor tenor que existe, lo que no deja de ser una paradoja. Lo es que el número uno sea un ligero, un rossiniano, pero así están las cosas. Y es que no hay nadie que reúna sus condiciones. Cada una de sus actuaciones acaba en vítores y aclamaciones de un público puesto en pie solicitando una propina tras otra. Esto ha sucedido en su presentación en Lisboa con un concierto acompañado del Coro y la Orquesta del San Carlo, el teatro de una ya mítica «Traviata» con Maria Callas y un jovencísimo Alfredo Kraus, tenor paralelo en muchas características al peruano Flórez. Bordó todas las coloraturas de páginas tan difíciles como las de «La gazza ladra», «Cenerentola» u «Otello» con una naturalidad y seguridad proverbiales. Demostró que el «legato» no está reñido con la pirotecnia en las de «Il signor Bruschino» y la archifamosa «Furtiva lágrima» y acabó apabullando al personal con la ristra de «does» de la cavatina de «La hija del regimiento», que además repitió cuando se le acabaron los bises como si fuese cosa de andar por casa. No hay quien realice todo eso con un timbre bellísimo y fresco, un fraseo y dicción ejemplares, un perfecto manejo de matices y dinámicas y un caudal vocal más que notable. Las propinas de «El barbero de Sevilla» y la peruana «La flor de la canela», con una hollywoodiense orquestación propia, corroboraron lo dicho. Flórez ya tiene un público que le sigue a todas partes, con muchos españoles entre él. Uno siente verdadera curiosidad por vivir los derroteros de su carrera, con unos inicios tan próximos a Alfredo Kraus sólo que con la voz del joven Giuseppe di Stefano. Si se cuida, y Ernesto Palacios le está guiando muy bien, tenemos una gran carrera por delante para delicia de todos nosotros. Ante actuaciones así sólo cabe decir «bravo maestro» y gritarlo de pie. Tras su recital el pasado año en el Festival Mozart coruñes, vuelve a España para un «Stabat Mater» en el Festival de Cuenca. Esperemos verle pronto en una ópera completa. ¿Quizá una «Cenerentola» en el Real? Al fin y al cabo, este coliseo mantiene muchos lazos con Pesaro y Rossini, y su recital madrileño, complicado por un resfriado pero finalizado también entre delirios, nos supo a poco. |
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